segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AO ANOITECER


Um jovem casal passava férias com seus dois filhos, escolheram, por recomendações de amigos, uma pousada cercada de montanhas com um rio cortando-as e que ficava a pouco mais de duzentos metros da pousada, além de uma linda cachoeira que descia de um dos lados da montanha, muitos coqueiros e palmeiras completavam aquela paisagem belíssima.
No segundo dia de estada naquele paraíso, Lincoln caminhava vagarosamente pelo verde gramado próximo aos alojamentos da pousada, começava anoitecer, o Sol muito vermelho sumia, engolido pelo horizonte, as multicores do céu davam mais beleza aquela paisagem. Passando defronte a capela que fica dentro da área que compunha a pousada, Lincoln sentiu um forte desejo de entrar um pouco, a capela sem portas estava permanentemente aberta, convidando os freqüentadores do local a agradecer o Criador por ter feito um lugar tão bonito.
Lincoln estava sentado com os olhos fechados quando ouviu passos vagarosos, alguém adentrava ao santuário, logo um leve arrastar de banco e tudo ficou quieto, Lincoln abriu os olhos, virou-se e notou ser um senhor com mais ou menos setenta anos e já se encontrava orando, ficaram assim durante alguns minutos. Após suas orações o velho levantou-se do banco onde estava e veio sentar exatamente no banco onde o Lincoln se encontrava:
- Estou incomodando?
- Ah! Não, não está, já terminei minhas orações. – A princípio Lincoln estranhou a vinda daquele senhor ao seu banco, pois haviam tantos outros desocupados.
- Vem sempre aqui?
- Não, é a primeira vez. E o senhor vem sempre?
- Vinha mais, hoje em dia dependo muito de quando minha filha pode vir, ela trabalha muito, dificilmente tem tempo!
- Só tem ela!
- Não, tenho mais dois filhos, dois rapazes, mas não moram no Brasil, se formaram e foram trabalham no exterior.
- Muitas lembranças?
- Muitas meu filho... – O velho dá uma pausa – muitas mesmo!
- Boas ou ruins?
- Boas, todas muito boas! Inclusive, ontem e hoje estive observando sua família e lembrei da minha, você tem dois filhos e uma bela esposa.
- É, tenho um filho de sete anos e uma filha de quatro.
- E a esposa!
- Ah! É, minha esposa... estamos casados a nove anos.
- Algo não está bem entre vocês?
- Está tudo bem sim – pausa - porque o senhor pergunta?
- É que eu estive observando a movimentação nesses dois dias, é o que um velho pode fazer de melhor, observar, e não pude deixar de notar que vocês estão sempre distantes.
Primeiro Lincoln ficou meio constrangido por falar de sua intimidade, mas aquele senhor transmitia tanta paz e segurança que resolveu se abrir:
- Nosso relacionamento esfriou muito! Nós viemos para cá tentando nos dar uma chance, mas percebo que não dá mais não...
- Isso é muito triste, o fim de um amor é triste... – O velho falou pausadamente e calou-se.
- É realmente, eu amei muito minha mulher, mas de alguns anos para cá, nós nos afastamos, a rotina no casamento, a correria do dia-a-dia: trabalho, cursos, filhos, viagens a negócio, encontros com amigos; ela também trabalha fora, está tudo muito difícil – Lincoln abaixa um pouco a cabeça e completa – tem também outras mulheres... – cala-se.
- É, quando o amor é bonito vale a pena investir, vale qualquer sacrifício.
- O Senhor fala com muita convicção. Chegou a viver problemas no seu casamento?
- Claro que sim. Eu me casei muito apaixonado, minha esposa era maravilhosa, tão bela quanto a sua, a gente se entendia muito bem, tivemos três maravilhosos filhos, com o tempo ela se tornou apenas mãe e eu pai, nossos diálogos foram reduzidos a problemas caseiros: filhos, escola, contas, daí em diante tudo desandou, eu que nunca havia traído minha esposa, não resisti aos encantos de uma colega de trabalho, e assim foi durante algum tempo. Um dia cheguei em casa depois do barzinho com os amigos, minha esposa me comunicou que iria fazer uma viagem com as crianças e que iria ficar um tempo sozinha para pensar sobre nós, nesse dia eu percebi que estava perdendo minha família e a mulher que tanto amara. Fiquei entre deixá-la partir e assumir a outra em definitivo, mas algo dentro do meu coração pedia uma nova oportunidade, era mais forte que a minha razão, foi então que pedi que me desse mais uma chance, sugeri que fizéssemos uma viagem juntos, ficando só nossa família e, se depois de tudo se ela achasse que devia partir eu não impediria. Á princípio ela relutou, dizia já ter tentado de tudo e que já havia tomado a decisão, nesse momento eu percebi que estava perdendo a chance de ser realmente feliz, resolvi que despojaria de qualquer orgulho e implorei, pois sabia que quem mais errara havia sido eu. Ela aceitou e nós viemos para este lugar, na época ainda era uma propriedade de um amigo, era tudo muito rústico, ficamos só nós, durante o dia íamos ao rio pescar, passeávamos a cavalo, tomávamos banho de cachoeira, fazíamos caminhadas, jogávamos bola, à noite jantávamos, acendíamos uma fogueira no terreiro da casa ficávamos inventando jogos e contando histórias. Via meus filhos correndo alegres e a alegria dos meus filhos e o belo sorriso da minha esposa me davam a certeza de que havia tomado a decisão certa. Resolvi investir em nós, conversamos muito, falei tudo o que eu não gostava e o que me deixava chateado, ela por sua vez também não deixou barato, fiquei sabendo tudo o que ela pensava sobre mim, percebi o quanto havia machucado-a, o quanto machista fora, foi tudo muito bom. Quando voltamos para casa nosso relacionamento mudou muito, estávamos mais unidos, mais fortes... – o velho dá uma pausa.
Lincoln se identifica muito com a história e resolve saber mais:
- E quanto à outra?
- Percebi que não a amava verdadeiramente, ela era apenas uma fuga, eu buscava a jovem que eu conhecera e que se tornara mais mãe que esposa, talvez mais por uma visão minha.
- E a relação de vocês com este lugar foi só naquela vez? Lincoln, na realidade estava usando essa pergunta para saber mais sobre a história do velho.
- Bem, depois daquela vez passamos a vir aqui com mais freqüência – nesse momento o velho pára, vira o corpo e fita o vazio lá fora – quando começo a pensar naquela época posso ver meus filhos correndo de um lado para o outro, os jogos de futebol, as pescarias, como éramos felizes, as idas à cidadezinha próxima daqui, as cantorias acompanhadas pelo violão tocado pela minha esposa. Ainda posso vê-la dando bronca nas crianças e dizendo que eu era tão moleque quanto eles – o velho abaixa a cabeça - ela era muito zelosa, dava broncas e ao mesmo tempo era carinhosa. Percebi a tempo que ela não precisava só de um bom pai para nossos filhos, precisava também de um marido, amante, um companheiro; e olha que isso nós fomos, como fomos! Envelhecemos juntos, vimos as crianças crescendo, primeiro o mais velho foi fazer faculdade na capital, logo o outro ganhou um bolsa de estudo no exterior e também foi embora, apenas minha caçula ficou, fez medicina, ficou na cidade morando e trabalhando. No final ficamos apenas eu e minha esposa, os filhos pouco nos acompanhava nas viagens, mas mesmo a saudade deles não nos impedia de sermos felizes, mas... - Nesse instante Lincoln percebe que uma lágrima teima em rolar pela face do velho.
- Prefere não falar!
- Não, não, eu falo, as lágrimas são de boas lembranças, como estava falando, há seis anos minha amada me deixou – o velho curva a fronte enquanto as lágrimas escorrem pelo seu rosto – ela foi atender o chamado do criador, doeu e ainda dói, mas eu sei que ela está me esperando para nunca mais nos separarmos. Hoje eu venho para este lugar com minha filha, ela vem com sua família e, sabendo que eu gosto muito sempre me convida, quanto aos outros filhos pouco aparecem, estão sempre muito ocupados.
- O senhor considera que tudo valeu a pena?
- Se valeu! Hoje eu tenho consciência que a vida é feita de detalhes e são eles que irão nos alimentar, nos darão força para continuar vivendo, não sou saudosista, tenho boas lembranças e são elas que me impulsionam. São elas que me dão a certeza que a vida valeu e vale a pena. O que me alimenta não são as coisas que não disse ou que não fiz, mas tudo que tive coragem de dizer e de fazer e que fizeram outras pessoas felizes. A minha amada continua aqui, viva, dentro do meu coração, toda felicidade que eu lhe dei e a que ela me deu dá a certeza que a felicidade existe e está sempre do nosso lado, basta tirarmos o rancor, a magoa, o orgulho, os preconceitos, temos que viver livre das amarras e de modismo, devemos ser verdadeiros, não ter medo de viver e de ser feliz, devemos ser felizes nem que seja na marra.
- Será que eu posso ter uma historia tão bonita quanto à do senhor?
- Com certeza não. Cada um faz sua história e ela pode ser melhor ou pior, mas é a sua historia. – O velho dá uma pausa na conversa - Desculpe-me, vim aqui, atrapalhei suas orações e fiquei falando o tempo todo!
- Não, não está atrapalhando, foi muito bom ter ouvido sua história.
- Bem tenho que ir, minha filha já deve estar me esperando para o jantar, meu genro é impaciente e amanhã levantamos cedo para viajarmos de volta. Os dois se levantam caminham silenciosos até fora da capela.
- Está uma noite muito bonita, uma linda Lua cheia, inspirativa, diria! Bem, vou chegando, boa noite! - Despede-se o velho.
- Boa noite! - Responde um Lincoln contemplativo.
O velho sai caminhando em passos lentos deixando atrás de si um homem pensativo, aquela história havia mexido com Lincoln. Ele ficou ali mais alguns minutos enquanto observava o velho seguir seu caminho sendo iluminado pelo clarão da noite enluarada.
- Boa noite, amor!
- Onde esteve até agora?
- Andando por ai.
- Sozinho!
Lincoln não respondeu, aproveitou que as crianças não estavam por perto, puxou sua esposa para junto de si:
- Eu já disse que te amo muito!?
- O que houve? Há muito tempo que você não age assim!
- Pois então pode ir se acostumando, agora vai ser assim! Lincoln abraçou forte a esposa e deu-lhe um longo e ardente beijo.

Autor - Inivaldo Gisoato / outros http://www.gisoatotal.com.br/

terça-feira, 22 de setembro de 2009

QUEM AMA CUIDA E TAMBÉM DA CARINHO



O famoso “quem ama cuida” é óbvio, ou ao menos deveria ser, mas essa expressão reserva armadilhas, pois a palavra cuida pode ser empregada para diversas coisas que uma pessoa possui, cuida do carro, da casa, do cachorro, do livro, do gado, da fazenda, dos CDs e por ai vai a lista de propriedade e, a pessoa amada acaba também virando mais uma posse, quando o outro reclama vem a famigerada frase: - Não sei porque você reclama, eu coloco comida em casa, não te bato, não isso, não aquilo, como se isso já fosse tudo. E o carinho? E o namoro? – Ah, mas você reclama de barriga cheia, veja o fulano! Ele chega bêbado, bate na mulher, não coloca comida em casa!
Tudo bem, que ótimo que não chega bêbado em casa, não bate, coloca comida em casa, mas... e o carinho?
Poxa! Você só fala isso!
Vamos nos lembrar: - Por que quando estamos namorando é aquele fogo? Dentro de um fusca se faz um estrago, depois, uma cama parece um continente, as pessoas precisam marcar encontro, os beijos ardentes passam a ser selinhos de despedidas, as saídas para ir a cinema, teatro ou apenas passear reduzem, usa-se menos perfumes, as palavras doces e carinhosas são trocadas por palavras ásperas, repara-se menos como o outro está vestido, ou o novo corte de cabelo. Dá-se menos flor, elogia-se menos. Vira-se irmãos, amigos, resumindo, vira-se propriedade – minha mulher, meu marido, meu carro, minha casa e por ai vai. O que houve com o romantismo? Só quando sente que está perdendo é que vem o desespero, as promessas de que agora vai ser diferente, passado um tempo, estabelece a propriedade, esquece as promessas e volta ao marasmo.
Muitas vezes valorizamos a mulher do outro, o marido da outra, a atriz que apesar de uma certa idade continua belíssima, mas e você sabe quanto custa para ela continuar daquele jeito? Quanto foi gasto com academia, silicone, lipo, dietas, roupas novas? E você quanto está investido para a pessoa amada ficar como uma Claudia Arraia, um Edson Celulari?
A falta de respeito, as ofensas, a falta de compromisso, a falta de diálogo desgasta, qualquer relacionamento.
-Eu me casei para ser feliz, não para viver nesse inferno. – Você se casou para ser feliz? Talvez ai esteja um dos principais erros, nós não deveríamos nos casar para sermos felizes, mas sim, para fazer o outro feliz, pois quando um faz de tudo para tornar o outro feliz os dois serão mais felizes.
- Ah, isso é fantasia, é auto-ajuda, uso de chavões! – Podem alegar alguns incoerentes ou que não se propõem a mudar.
Outros incoerentes e egoísta dizem: - Eu nasci assim, quando você me conheceu eu já era assim e não vou mudar? – Esse comportamento é conhecido com “ síndrome Grabriela” – aquela música do Dorival Cayme – Eu nasci assim, eu sou mesmo assim, Gabriela. Dizer que quando a conheceu ou o conheceu já era assim é uma mentira, normalmente era mais magro(a), tinha mais cabelo e outras coisas mais. A natureza é sabia, tudo muda, o mais inteligente é saber mudar, se adaptar aos novos tempos, se adaptar às pessoas, isso não é perder identidade, mas sim, forjar um identidade cada vez mais forte e mais condizente com a nova realidade.
A vida é curta, nunca durma com mágoas, com ressentimentos, você pode não ter uma nova chance de se reconciliar com a outra pessoa e, arrependimento tardio e terrível, além de incoerente.
Beije mais, dê flores, faça mais carinho não só quanto está com segundas intenções, elogie mais, diga que ama com mais freqüência, saia mais, conheça novos lugares, faça novos amigos, o outro já pode estar cansado dos mesmos amigos, das mesmas piadas, das mesmas lamúrias.
Quem ama não agride, quem ama não ofende, quem ama muda para melhor, quem ama se cuida para o outro, quem ama cuida e da muito carinho também.

domingo, 13 de setembro de 2009

PARAÍSO: O SUCESSO DO BRASIL SERTANEJO


A vida selvagem - o coronel

A mocinha de olhar brejeiro - isso é um Paraíso
Normalmente as novelas com temas focando a vida interiorana têm boa aceitação do público, haja vista novelas de grandes sucessos na televisão brasileira: Roque Santeiro, Rei do Gado, Pantanal, Pedra Sobre Pedra, Sinhá Moça, Cabocla, Mulheres de Areia, Irmãos Coragem e, atualmente, Paraíso comprovam o que estou dizendo. Inclusive Sinhá Moça, Cabocla, Mulheres de Areia, Irmãos Coragem já haviam sido sucesso de audiência na primeira versão e não foi diferente na segunda, e é justamente o que está acontecendo com Paraíso.
Com certeza há várias explicações para isso, mas dentre outras, a de que realmente o povo brasileiro tem um pé no interior. O Sociólogo Fernando Henrique Cardoso, quando ainda era presidente do Brasil, num discurso em Portugal falou que o brasileiro era um povo caipira, bastou para gerar uma grande polêmica, talvez até incentivado pela oposição partidária da época, porque as comprovações não deixam dúvidas. Ao falar isso não nos referimos de forma pejorativa, não querendo dizer que é um povo bobo, sem cultura ou que pode ser enganado facilmente com faz supor algumas piadinhas, até porque o nível das pessoas que moram no interior é cada vez melhor, tanto em questões culturais, sociais e financeiras, inclusive várias cidades interioranas, com frequencia são eleitas como os melhores lugares para se viver. As novelas e as músicas demonstram essa tendência, tanto que os maiores vendedores de CDs e DVDs, ou as músicas mais executadas são as chamadas sertanejas, inclusive em algumas cidades e capitais do país existem rádios que lideram a audiência tocando cem por cento de músicas sertanejas.
Podemos supor também que as pessoas moradoras em cidades grandes, com suas vidas agitadas, gostem de ver e se imaginar numa vida mais tranqüila, onde os relacionamentos e as amizades são mais intensos, tendo o contato frequente com vida no campo e estando em harmonia com a natureza.
Quando expomos esse assunto pode parecer apenas que queremos falar de novela, mas é interessante falarmos da cotidiano, da angustia e isolamento que as pessoas sofrem com a cidade grande, onde vizinhos moram muitos anos próximos e não se conhecem. Sabemos que muita gente gosta disso, pois gera a sensação de independência e que as pessoas cuidam menos da vida do outro, dando menos margens para conflitos e fofocas.
Esse é um assunto bom para discutir, cada um tem uma opinião, isso é maravilhoso, ninguém tem a verdade definitiva e o debate sereno faz com que nós possamos entender melhor o processo de se viver e conviver, afinal de contas, se temos que viver um estilo de vida, seja no interior ou nas grandes cidades, temos que entender que haverá vantagens e desvantagens, mas acima de tudo, nós construiremos nosso lugar e nossa história feliz, levando sempre boas lembranças e não sentindo eternamente saudosista.
Numa novela uma boa história, belas imagens ajudam muito a elevar a audiência, mas achar que só isso é o suficiente, é dizer que outras novelas, que não são ambientadas na vida interiorana, não as tenham. As novelas anteriores no mesmo horário tiveram média de audiência de 23%, já a novela Paraíso começou mal, até por conta do que havia recebido, mas logo começou subir e hoje está com a média é de 30%, talvez até por existir atualmente diversas novelas em outros canais retratando a vida tumultuada e agitada da cidade grande.
Toda boa novela ambientada em cidade interiorana deste país de proporção continental deve ter alguns ingredientes: as fofoqueiras, o moço da cidade grande, os políticos e a politicagem, o padre boa gente e comilão, a(s) beata(s), os botecos que servem de ponto de encontro, as histórias e lendas da região, os coronéis (que na maioria das vezes têm brigas pessoais antigas), os moços de botas, esporas e chapéus grandes, os cantadores ao redor de fogueiras em noite de lua, as mocinhas com olhares brejeiros, as figuras folclóricas da cidade e, não podendo faltar as belas imagens da região.
Na realidade o interior está impregnado no interior de cada uma de nós, é nossa volta, nem que seja por imagem, às nossas origens o que nos dá uma dose de alegria diária.
O moço da cidade e as fofoqueiras - A bela santinha
O peão apaixonado - O padre o dono do bar e o político
Os moços das botas e chapéus grandes - O bom padre comilão
ingredientes de uma boa novela interiorana

sábado, 5 de setembro de 2009

SEU TEMPO É AGORA.

Já ouvi muitas vezes pessoas com certa idade dizendo: - No meu tempo era diferente! – No meu tempo as pessoas se respeitavam mais! No meu tempo, no meu tempo e outros “no meu tempo”. Eu não resisto e pergunto: - Você está morto (a)? A pessoa se assusta e pergunta: - Claro que não estou morto (a)! Por que essa pergunta? E eu respondo: - Fiquei ouvindo você falar no meu tempo! Está querendo dizer no tempo que era vivo (a), é isso?
É evidente que não sou tão imbecil, só instigo para as pessoas notarem as besteiras que estão dizendo, “o meu tempo” é hoje, podemos até dizer: - Quando eu era mais novo. - Quando tinha tantos anos ou coisa assim, mas meu tempo deve ser sempre o agora. Alguém pode pensar, mas que besteira, porque se incomodar com isso! Mas pode ter certeza que não é besteira. Com essa história de - “meu tempo” - muita gente se acha ultrapassado: não dá mais, passei do tempo e da idade, meu tempo já passou! A minha parte já fiz agora é a de vocês e vejam as besteiras que estão fazendo!
Isso tudo “cheira a” ou leva a desânimo, descompromisso, depressão e, principalmente, falta de determinação para continuar fazendo o que tem que ser feito.
Temos que viver cada momento, enquanto existir um pingo de vida é nosso tempo. Infelizmente há pessoas saudáveis que se entregam e parecem mortas, são mortos-vivos. Não importa idade este é seu tempo.
Normalmente as pessoas passam a vida inteira sonhando com o momento quando estarão aposentadas, deixam de fazer um punhado de coisas porque estão cansadas, não tem tempo, precisam juntar dinheiro por não saber o que será do futuro (claro que um pouco de planejamento e poupança é bom, mas não pode ser paranóia), pensam que quando aposentarem estarão com a vida mais tranqüila e poderão curtir a família, os amigos, irá viajar e outros planos mais.
Em muitos casos a aposentadoria chega, mas com a pessoa mais velha, mais cansada, sem amigos construídos no decorrer da vida, a família já se desfez, filhos crescidos, já não necessitam tanto dos pais. A pessoa começa a perceber que sua presença já até incomoda, eles precisam viver a vida deles, não precisam tanto do seu tempo, do seu carinho, de todo esse amor que você acumulou. Muitas vezes já se chega à aposentadoria com algumas doenças e muitas manias. Essa dura constatação chega tardia e em muitos casos vem junto com a depressão, solidão e mais doenças.
Viva a vida a cada momento, aproveite para fazer tudo dentro do seu tempo e da idade, mesmo que esteja cansado, dê atenção aos filhos, ao cônjuge, aos amigos, aos demais parentes, vá a cinemas, teatro, visite praças públicas, cidades e lugares novos, jogue, pesque, converse, saia do seu mundo interno e viva o dos outros também. Isso é vida, então viva a vida!
- Eu não tenho dinheiro! Há várias programações que não necessitam de dinheiro ou precisa-se de pouco. Por exemplo: sair para tomar um sorvete com a família não custa caro, passear na praças, jogar bola no quintal de casa, assistir um filme em casa acompanhado de uma pipoca são opções baratas. Abraços, aperto de mão, rir juntos, dizer eu te amo é tudo de graça.
Há uma pesquisa que demonstra que as pessoas são infelizes mais por coisas do passado ou preocupações de como será o futuro e pouco pelo que estão vivendo no presente.
O seu tempo é agora, você tem obrigação de ser feliz do jeito que está, com pouca saúde, com pouco dinheiro e com pouco outras coisas, mas a vida é agora, assim, o mesmo trabalho que tem em viver procurando motivos pelos quais é infeliz, encontre motivos pelos quais deve ser feliz.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O PODER ENOBRECE OU APODRECE


Gandh - Jesus - Luter King

Quando debatemos a trilogia O Senhor dos Anéis já tínhamos a intenção de discutir, posteriormente, o seu enfoque principal que é a luta pelo poder. Numa história fantasiosa aparentemente não se tem muitas pretensões, mas a discussão de como o poder pode ser benéfico ou maléfico, ganha um debate importante.
O hobbit, personagem principal da história, um ser com menos de um metro e meio que geralmente vive em tocas embaixo da terra, tem os pés peludos, não gosta de grandes aventuras e não tem muito apego a bens materiais ou patrimônios, quando o Um Anel (Anel do Poder) cai em suas mãos ele é informado que deverá destruí-lo, pois o Mal quer recuperar o Anel para subjugar e destruir a todos na Terra Média, assim é formada uma sociedade para ajudá-lo a levar o Anel até o local onde ele deverá ser destruído. Apesar dos componentes dessa sociedade ser maiores e mais fortes, não querem se arriscar levando o Anel, pois sabem que poderão sucumbir à tentação do poder do Um Anel e, o hobbit, aquela figura despretensiosa e frágil, fica encarregado de levar o Anel do Poder e jogá-lo no fogo, a fim de ser destruído. Durante a jornada até componentes da sociedade ficam tentados a tomar o Anel e usá-lo em causa própria e acaba pagando com a própria vida pela ganância.
Infelizmente isso não só acontece nas histórias, supostamente fantasiosas, na vida real a história se repete muitas e muitas vezes. O poder embriaga e, mesmo pessoas que entram numa causa ou numa função com bons propósitos acabam se corrompendo sob o signo do poder. O poder atrai interesseiros e bajuladores, dá a sensação de onipotência e do “pode tudo”.
Evidentemente que não estamos dizendo que todos que assumem o poder, ou detêm algum poder o usa para benefício próprio ou para corromper e subjugar, mas temos visto um número cada vez maior de líderes usando poder financeiro ou influência para se beneficiar ou para prejudicar outros. Somos sabedores ou ao menos deveríamos saber que não existe um perfil definido do individuo que, uma vez detentor do poder, fará mau ou bom uso dele, pois se assim fosse não teríamos tido um líder tão negativo quanto Adolfo Hitler, pois se fizermos uma análise de sua biografia era considerado alguém com o perfil ideal para ser um maravilhoso líder. Poderíamos sitar ainda líderes religiosos que usaram a Santa Inquisição para destruir aqueles que supostamente não serviam aos objetivos da igreja ou do Senhor, e o absurdo é que eles tinham a missão de divulgar a mensagem de paz, amor e tolerância ensinada por Jesus.
Bem, se formos discutir todos os líderes negativos ficaríamos discorrendo durante páginas e páginas, mas devemos ressaltar que tivemos líderes que deram bons exemplos: Jesus que em toda sua pregação e exemplos só oferecia o amor, a bondade, o perdão e a fraternidade, nunca sugeriu o emprego da violência ou o abuso da boa vontade do próximo. Mahatma Gandh que fez na Índia a revolução da Paz, pregava a mudança sem violência, Martin Luther king, Nelson Mandela e outros líderes contemporâneos, se não foram perfeitos, chegaram próximos do propósito do bom uso do poder,
O que temos visto é o poder corrompendo e destruindo qualquer propósito anterior, destruído a esperança, a dignidade, a ética e a moral (sem moralismo).
Dá-se a impressão que líderes negativos só existem nos autos poderes políticos ou em hierarquias superiores numa cidade, no estado ou no país, mas temos o mau uso do poder acontecendo dentro de casa exercido pelo pai, pela mãe, e segue com marido, esposa, o policial, o professor, o gerente de qualquer repartição, o padre o pastor ,enfim, qualquer poder, por menor que seja, embriaga e pode seduzir e, a partir daí, as conseqüências serão diversas.
O eleitor critica o político, mas também corrompe e é corrompido quando vende seu voto ou aceita que seu candidato haja errado em nome de bandeiras partidárias ou para atender o grupo que compõem, quando deveria estar a serviço de quem o elegeu, o povo.
O poder não é podre, tentam criar uma tarja para ele, na realidade alguns (muitos) é que se apodrecem quando assumem o poder.
O poder deve ser exercido com a consciência de que já se está recebendo uma dádiva de ajudar o maior número de pessoas possíveis, que foi escolhido para comandar e ajudar a encaminhar, assim cada segundo deve ser de consulta se está trilhando o caminho do poder participativo e consciente. Um líder quando erra deve ter uma punição maior, pois os seus exemplos podem engrandecer ou desestimular e incentivar a iniqüidade.
As novas gerações só poderão estar isentas da manipulação dos maus líderes a partir da melhoria do seu nível cultural e intelectual, e, isso inicia na família e estende para mais investimento em educação. Um povo culto tem menos chances de ser usados, enganado e subjugado.
Só um povo consciente e culto vai poder se rebelar e saber afastar os que querem usar o poder para manipular e se beneficiar, só um povo determinado e esclarecido poderá perceber a diferença entre o bom líder e o manipulador.
O poder é uma benção e quando bem exercido ajuda a produzir gerações mais determinadas e seguindo os bons exemplos. Quando mal exercido produz gerações doentes, decepcionadas e corrompidas moral e eticamente.
O poder coerente produz efeito de água represada quando aberta irá atingir uma extensão muito grande, poderá causar até alguma destruição, mas não irá muito longe será sugada pelo chão, resultando em terra fértil, produção agrícola e fartura.
O poder exercido de forma inconseqüente é como fogo que queima, mata, destrói, é levado rapidamente pelo vento e difícil de ser exterminado, ao seu término o que restará será muita morte, dor e destruição, necessitará da água abençoada para a demorada restauração da vida alegre e abundante.
Todos nós somos responsáveis por zelar pelas pessoas que exercem qualquer poder, vigiando, estimulando as boas ações e repudiando o mau uso do poder.